Toda a gente sabe que o Leão é o rei da selva. Ao seu rugido, toda a selva se cala. Nem sequer a cigarra se atreve a cantar... Eu vivi em África, mas só uma vez ouvi o rugido do leão e, realmente, é imponente, aterrorizador o silêncio que se faz na selva... Mas se levantares a mão ao Leão ele foge. Isto é o que, nem toda a gente sabe...
_*_
Pataky é um macaquito alegre e feliz. Vive nas copas das árvores e, desde que não faltem bananas, a vida corre bem. Se, por qualquer motivo, as bananas começarem a faltar por aquelas bandas, Pataky muda de poiso e o assunto fica resolvido. O mundo é grande e Pataky sabe disso. Alegre e feliz lá por cima, assistindo, de camarote, às quezílias que acontecem cá por baixo, vai gozando a falta de sabedoria dos outros habitantes da selva. Muitos problemas há: é a Formiga que não para um segundo, o Cuco que não aceita os filhotes, a Lebre que quer correr mais que toda a gente. Pataky acha tudo aquilo uma perda de tempo, como se não bastasse o problema do prepotente Leão, que se julga um rei e que a todos manda calar com o seu potente rugido.
- Estás triste, Cigarra? – pergunta Pataky vendo a sua amiga Cigarra de barriga para cima, quase morta.
- Triste não. Estou esfomeada... ui ui, dói-me a barriga de tanta fome.
- Ó Cigarra, vai comer em vez de estares para aí a gemer.
- Não tenho forças, cantei tanto toda a noite que não tive um segundo para procurar comida.
- Bem te ouvi. – responde Pataki com um sorriso – Alegras as nossas noites. Também te ouvi a discutir com a formiga, grande sovina, nem umas migalhinhas te deu...
- A formiga é uma parvalhona, é o que ela é, pensa que só ela trabalha, mas cantar é o meu trabalho. Como seria a selva sem o meu canto?
- Nem digas mais nada, acho que tens razão. Nesta selva nem tudo é prefeito, há coisas irritantes conclui Pataky – ando aqui a pensar numas alterações.
- Alterações? Hahahahhahahaha... Macaco! O rei é o Leão – gozou a Cigarra – hahahhahahaha.
- Veremos...
E lá foi Pataky, de ramo em ramo, sem mais se lembrar que a sua amiga Cigarra estava cheia de fome.
- Ui ui, alguém me dê umas migalhinha. Já não aguento mais – gemia a Cigarra.
E nisto, eis o majestoso rugido do Leão. Claro que se fez silêncio na selva. Bem, silêncio sim, mas não totalmente. A pobre da Cigarra continuava gemendo de fome.
- Ui ui, alguém me dê uma migalhinha. Já não aguento mais.
- Como te atreves, Cigarra, continuar a gemer na minha presença?
- Tenho fome e quando tenho fome fico sem medo. – argumentou a Cigarra.
O Leão, enfurecido, manda um segundo rugido. Minorca, aquela cigarra. Se não fosse isso já a tinha devorado.
- Cala-te, Leão, acabou o teu reinado. A partir de agora sou eu que mando.
Quem falava assim era Pataky. Lá de cima tinha assistido a tudo.
- Um macaco a fazer-me frente?
O Leão lambe os beiços e quando já estava pronto para devorar o macaco, eis que Pataky levanta a mão e diz:
- Para trás, Leão.
Surpreendido com o macaco, que tinha algo que ele, o Rei da selva, não tinha, um par de mãos, o Leão baixa o focinho e toma outro rumo.
Pataky olha para as suas mãos e dá uma gargalhada. Afinal o Rei era ele. Rei desta e de todas as selvas.
Mas seria Rei para todo o sempre?